I'll Meet You in the Wonder
24 julho'22
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ACE Escola de Artes e Chorea PAP
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Palácio do Bolhão

Uma epígrafe
“A floresta deve ser o futuro da cidade e não a sua pré-história”
Emanuele Coccia
Um devaneio biográfico para dar contexto
Quando fui convidade pela ACE para dirigir a Prova de Aptidão Profissional de alunxs que estão a terminar os seus cursos, recuei inevitavelmente nove anos – altura em que uma boa parte das turmas M, N e O se juntava para fazer a sua prova final, produzida pela escola. Quando recuei àquele verão de 2013 vi que estava lá, recordei salas de ensaio rodeadas de sol e vegetação que já não existem, relembrei as expectativas que tinha sobre a PAP e lembrei-me do olhar que tinha sobre o mundo naquele verão. O que mais me interessou nesse recuo não foi 2013, foi compreender que coisas me distanciam de 2013, o que é que aconteceu entretanto, o que é que daquela pessoa ainda sou eu e o que já não sou, em que é que me metamorfoseei e quantas pessoas diferentes já fui
entretanto. (Acima, onde se lê “pessoa” pode ler-se “artista”. Não distingo) Uma memória muito descritiva para acabar Há um princípio na improvisação que nos diz que “fazer o oposto do que está a acontecer é uma das formas de aceitar o jogo”. Esta regra ensinou-me que a neutralidade não existe, que é impossível uma não-agência. Que não fazer nada por, ou ir contra, ou afastar-se, é
ter uma agência. É sempre estar em relação com. Quando iniciei os primeiros encontros com este grupo, encontrei um conjunto de pessoas muito diferentes, com vontades díspares, níveis de motivação desiguais e expectativas que iam oscilando entre propósitos artísticos e vontade pura de experimentação. Interessaram-me mais as divergências do que os pontos de contacto porque a beleza que vi foi, para além da diversidade de universos, um absoluto respeito pelos universos alheios (não me lembro de, em 2013, sermos tão empáticxs). Lidar com a ideia de coletivo
e de um espanto que lhes fosse comum começou a ser o meu objetivo. Trocámos correspondência, inventámos contextos, projetámos identidades, transformámo-nos em super-heróis, discutimos com pontos de vista que não eram os nossos e defendemos espetáculos inventados a programadores fictícios. Usámos a ficção para construir a nossa realidade comum. Quando escrevi o guião final já não estava sozinhx. Acompanhavam-me as pessoas com quem fiz estas coisas todas e consequentemente também as suas expressões, tiques de linguagem, pensamentos, entusiasmos, provocações, irritações, posicionamentos e até as (muito poucas) resistências ao processo de criação. Esta PAP foi construída com todas as 23 pessoas que estão em prova. Como não acredito numa não-agência considero que elas são, de uma forma ou de outra, cocriadoras deste resultado e não apenas técnicas ou executantes, mesmo que acreditem que sim. I’LL MEET YOU IN THE WONDER é o jogo que 24 pessoas aceitaram das mais diversas formas, um multiverso que cabe numa sala. A convivência entre várias coisas, que vêm de sítios diferentes e que constroem um novo-ecosistema-sempre-novo.
Tiago Jácome
Sinopse
Um grupo de pessoas encontra-se para procurar o sublime enquanto foge das metáforas. Procuram um momento qualquer. Quando se corre atrás ele foge, quando se fala nele é normal que se afaste. Um grupo de pessoas cheio de pessoas dentro, que não tem medo dos problemas, pergunta: se isto tudo já começou antes de termos chegado, como é que se avança? Se voltar é uma impossibilidade como é que se dá um passo atrás? Se não há um fim, onde é que ficam o clímax, o êxtase, as resoluções e os murros no estômago? I’LL MEET YOU IN THE WONDER é uma conversa interminável que não cede à inércia do questionamento. Agora importa afastar problemas que não deviam ser os nossos: a vida na Terra não é um ciclo, a História não é uma superação, os espetáculos não têm de contar histórias, as plantas não são adornos, os animais não são para fazer desaparecer, respirar não tem que ser fundo, o todo não tem que ter tudo, um grupo de pessoas não é uma massa homogénea e a ação individual não tem que acabar com a ideia de coletivo.
Criação Tiago Jácome* Intérpretes Afonso Leite, Carolina Almeida, Catarina Borzyak,
Daniel Selbourne, Elizabeth Veitch, Henrique Seixas, Jéssica Ferreira, Joana Santos,
Luciana Baptista, Marco Martins, Maria Luís Loureiro, Ricardo Correia Silva, Sofia
Araújo e Tiago Silva Desenho, Montagem e Operação de Luz Luís Azevedo e Nuno
Monteiro Montagem de Luz e Operação de Follow Spot André Fangueiro Montagem
e Operação de Som Ana Moreira e Andreia Matos Cenografia e Adereços de Cena Ana
Rita Marques e B. Yoki Oliveira Figurinos e Adereços de Ator e Atriz Rita Eustáquio
Assistencia a Figurinos Fábio Rodrigues
Logótipo Alexandra Carneiro* Design Gráfico Luciana Baptista
Divulgação ACE Escola de Artes / ChoreaPAP
Produção ACE Escola de Artes / ChoreaPAP
Apoios ACE
Professor/a Orientador/a João Martins e Cristiana Dias
Professores/as acompanhantes
Apoio a Som Fábio Ferreira Apoio a Cenografia e Adereços Susete Rebelo e Filipe
Mendes Apoio a Figurinos e Adereços Carolina Sousa
Execução de Figurinos Maria da Glória Costa
Agradecimentos Comunidade escolar, Alexandra Carneiro, Cláudia Oliveira,
CandleCharm, Pastelaria Cristo Rei, Confeitaria do Bolhão, MXM ArtCenter, Joana
Pereira, Gil Macedo, Moonvan e Ana Fonseca
* Fora do contexto de PAP