MOSAICO — Cicatriz-Semente
20 novembro'25
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Teatro do Bolhão
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Coliseu do Porto
Toda cicatriz-semente é a memória do corte que, ao invés de encerrar, inaugurou.
O mundo, talvez, não seja mais que um vasto mosaico de reflexos. Cada pedra, cada rosto, cada som contém o eco de uma forma anterior – uma lembrança de algo que existiu ou sonhou existir. Assim, o espetáculo que se erguerá no Coliseu do Porto no dia 20 de novembro de 2025 não será apenas uma sucessão de danças, músicas e gestos, mas a tentativa de compor, com mais de trezentas presenças humanas, a imagem infinita de um labirinto que chamamos Terra. As vinte e duas escolas artísticas que nele convergem são como corredores desse labirinto: distintos, mas comunicantes. Em cada um deles, uma peça se move – um corpo que dança, uma voz que canta, uma mão que pinta – e todas, juntas, desenham o mapa impossível do mundo.
O tema é o meio ambiente, mas também é o espelho em que nos perdemos. Porque compreender a natureza é perder-se dentro dela, reconhecer-se numa teia de correspondências tão delicada que um único gesto pode alterar o destino das estrelas. O Coliseu, nessa noite, deixará de ser um edifício. Tornar-se-á um ventre e um espelho. Um ventre onde o mundo é recriado a partir do sonho das(os) jovens artistas, e um espelho em que cada espetador verá refletido não o que é, mas o que poderia ter sido. As fronteiras entre público e palco se desfazem, como se o espetáculo não tivesse centro – apenas uma rede de presenças em busca de um equilíbrio que se sabe precário, como o de um deus distraído que tenta ordenar o caos com as mãos.
E quando o último gesto se extinguir na penumbra, o que restará não será a memória de um evento, mas o pressentimento de um enigma. Talvez compreendamos, por um instante, que o mosaico do mundo é o mais vasto dos labirintos – aquele que se reflete infinitamente em cada olhar. E que dentro dele, entre a música e o silêncio, ainda se pode sonhar o nascimento de uma nova era, onde a arte, como um espelho côncavo, devolve ao ser humano o mistério de sua própria criação.
Miguel Hernandez
Outras Informações
21:30
Entrada livre sujeita à lotação da sala