Vida do Grande Dom Quixote De La Mancha e do Gordo Sancho Pança

26 outubro a 24 novembro'19
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Teatro do Bolhão
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Palácio do Bolhão
Vida do Grande Dom Quixote De La Mancha e do Gordo Sancho Pança

António José da Silva é praticamente desconhecido fora de Portugal. Enquanto encenador, entusiasma-me a descoberta deste autor de 1700, morto aos 34 anos, nascido no Brasil, que estudou em Coimbra e morreu em Lisboa na fogueira da Inquisição. No século XVIII, na Europa, em Portugal, a força do Rei é absoluta; estão ainda por vir a Revolução Francesa, o grande dramaturgo italiano, Goldoni, ou compositor austríaco Mozart. 
Porque é que António José da Silva reescreve para teatro de marionetas este ouro do Barroco espanhol, de Cervantes, publicado cem anos antes?
O D. Quixote era bem conhecido do público, mas António José da Silva alterou a velha versão, focada em D. Quixote, que mantinha a imagem do cavaleiro herói, e focou-se no mundo de Sancho Pança, um anti-herói. Enquanto Dante procurou na sua viagem o sentido moral da vida e Cervantes desenha uma paródia da imagem do Cavaleiro, António José da Silva acompanha o caminho de Sancho Pança num mundo entre realidade e sonho, que muitas vezes se configura como um pesadelo entre o poder da folia e a folia do poder, como a Torre de Babel. Pode Sancho Pança viver nesse pesadelo?
António José da Silva era chamado de “marrano”, era judeu e cristão, era desterrado, com nacionalidade dupla e, por isso, como Thomas Mann ou Franz Kafka no seu tempo, carrega uma duplicidade interior. Hoje o mundo vive um período de grande globalização, o nacionalismo emerge e revela-se; nós, o povo, não moral, não responsável, sem justiça, egoísta, narcisista, nós permitimos que a insegurança alastre por todo o mundo. Podemos encontrar o sentido da nossa vida, o seu objetivo?

Kuniaki Ida

 

Por que nos continua a fascinar incessantemente esta personagem mítica criada por Cervantes há mais de 400 anos? Que faria de As Aventuras de D. Quixote a obra mais editada em todo mundo depois da Bíblia?
Que podemos procurar hoje neste herói ingénuo e sonhador a partir do qual se criou o termo quixotesco para designar aquele que é nobre mas desligado da realidade ou que trabalha em defesa de causas que julga justas, sem consegui-lo?
Porque nos inquieta a versão de António José da Silva que acrescenta ao original de Cervantes uma cena com uma Justiça vesga e inapta, porventura a mesma que acabaria por matá-lo numa fogueira da inquisição?
Vida do Grande D. Quixote de La Mancha e do Gordo Sancho Pança, de António José da Silva, narra as aventuras deste cavaleiro que transforma constantemente o real: imagina guerreiros, imagina batalhas, imagina uma amada… Sempre acompanhado pelo seu companheiro Sancho Pança, segue em aventuras que ele próprio inventa, apagando os limites  entre o real e o imaginado e questionando a nossa capacidade de ver para além do que estabelecemos como normal.
Neste espetáculo dirigido por Kuniaki Ida em que ilusão e realidade se confundem num universo delirante e cómico, o idealismo não é só uma forma de escapismo, mas também a capacidade de ver outra realidade, utópica, e deixar-nos perder, divertir e maravilhar com D. Quixote e Sancho Pança.

 

Texto ANTÓNIO JOSÉ DA SILVA   Encenação KUNIAKI IDA   Versão Cénica ANTÓNIO CAPELO   Intérpretes ANTÓNIO CAPELO, ÂNGELA MARQUES, BERNARDO GAVINA, CLARA GONDIN, JOÃO PAULO COSTA, PAULO CALATRÉ, RUTE MIRANDA, MÁRIO SANTOS e SANDRO RODRIGUES   Cantora ALEXANDRA CALADO   Músico ANTONY FERNANDES   Cenografia e Adereços CRISTÓVÃO NETO   Assistência de Cenografia FILIPE MENDES e NUNO ENCARNAÇÃO   Figurinos CÁTIA BARROS   Assistência ANA ISABEL NOGUEIRA e PATRÍCIA MOTA   Execução de Figurinos MARIA DA GLÓRIA COSTA e ASSUNÇÃO PINTO   Adereços de Ator PAULA CABRAL   Estagiária de Figurinos e Adereços de Ator   MARIANA TOPA   Luz RUI MONTEIRO   Som JOSÉ PRATA   Maquinaria ANTÓNIO QUARESMA   Direção de Produção GLÓRIA CHEIO e PEDRO APARÍCIO  

Direção Técnica PEDRO VIEIRA DE CARVALHO   Direção de Cena ARMANDA ANDRADE   Montagem e Operação de Luz TIAGO SILVA
Montagem e Operação de Som Fábio Ferreira   Operação de Maquinaria JOÃO FÉLIX / PEDRO GALANTE  

Produção Executiva ROSA BESSA   Apoio à Execução de Cenografia MARIA MANADA e PEDRO GALANTE   Bilheteira / Frente de Casa Cláudia SOFIA / ROSA BESSA

Divulgação NUNO MATOS e RAQUEL SOUSA   Fotografia PEDRO FIGUEIREDO   Vídeo EVOKE COLLECTIVE   Design Gráfico BERNARDO PROVIDÊNCIA   Design do Jornal NUNO MATOS

Agradecimentos LÉRIAS ASSOCIAÇÃO CULTURAL – PALAÇOULO / BRAGANÇA