A História da Imperatriz Porcina

07 junho a 09 julho'24
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ACE Escola de Artes
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Palácio do Bolhão
A História da Imperatriz Porcina

A História da Imperatriz Porcina foi escrita por Baltazar Dias em 1660. Como qualquer peça escrita durante a Inquisição, tem um cariz extremamente cristão e moralista. Contudo, é uma história que, lida nos dias de hoje, nos poderá lembrar de uma história que continua a ser comum a tantas mulheres, que são primeiramente julgadas pela sua aparência e não pelas suas opiniões ou vontades, e cujo destino das suas vidas continua a estar dependente de terceiros, capazes de acreditar mais rapidamente na palavra de outro homem, do que na delas. Esta é uma história que chegou a vários cantos do mundo, inspirou outros contos, pinturas, histórias de cordel e até telenovelas.


O antes de nós e o aqui e agora O Projeto Teatro Português é feito no primeiro ano da formação dos alunos e das alunas da ACE Escola de Artes para que possam, por um lado, conhecer dramaturgia portuguesa, mas também, por outro, tem como objetivo proporcionar-lhes contacto com um período específico compreendido entre o séc. XVI e o séc. XVII. Sabemos que, quando nos referimos a este período histórico, a figura de Gil Vicente é incontornável. Aliás, é-o não apenas neste período, mas em toda a história do teatro, até aos dias de hoje. Talvez por isso, durante
muitos anos, esta FCT (Formação em Contexto de Trabalho) se chamasse “Rapsódia Vicentina”, fazendo com que todas as pessoas estudantes desta escola passassem pela experiência de conhecer este autor, a sua escrita, ironia, mordacidade e virtuosismo. Contudo, Gil Vicente não foi o único dramaturgo do seu tempo. Aliás, por ter sido tão genial, é evidente que o seu trabalho e obra inspiraram outros a escrever e a fazer teatro, incluindo seus contemporâneos, como é o caso de D. Francisco Manuel de Melo, António Ribeiro Chiado, António José da Silva (o Judeu), apenas para
dar alguns exemplos, considerando-se até em muitos casos pertencerem a uma “escola vicentina”, tal foi a sua influência. É neste contexto que nos cruzamos também com Baltazar Dias, claramente menos conhecido do que outros, mas cuja escrita e imaginário são de uma riqueza imensa. Sobre ele sabe-se muito pouco. É conhecido como sendo cego – embora não se saiba se realmente
tinha falta de visão –, tem as suas origens na ilha da Madeira (onde, aliás, o seu nome ficou perpetuado no teatro municipal do Funchal), é o primeiro autor do mundo ocidental de que temos conhecimento que terá reivindicado direitos de autor das suas obras, sabemos que terá sido um homem muito culto, com acesso às literaturas clássicas, embora que, ao contrário de Gil Vicente, que era um autor da corte, Baltazar Dias tivesse um cariz tremendamente popular. Se, em Portugal, Baltazar Dias raramente é conhecido, lido, estudado ou representado, a verdade é que as suas peças chegaram a outros países, de outros continentes, e lá, transformaram-se e ganharam outras expressões: por exemplo, no caso de São Tomé e Príncipe, a sua obra A Tragédia do Marquês de
Mantua acabou por dar origem ao famoso Tchiloli, ou, no caso do Brasil, A História da Imperatriz Porcina, que hoje aqui encenamos, deu origem a várias histórias de cordel, alimentou a imaginação de pintores e outros escritores, e influenciou, inclusivamente, a trama de uma famosa telenovela. E é por aqui que, durante as últimas quatro semanas, as turmas do primeiro ano dos cursos de Intérprete (Ator/ Atriz); Luz e Som; e Cenografia, Figurinos e Adereços, têm andado. Entre pesquisas da época em que o texto foi escrito, o cruzamento com a época em que a narrativa acontece, e o aqui e agora deste momento presente em que vivemos todos hoje, feito de corpos vivos, que decidem, em 2024, recuperar este texto e lançar-se no exercício de o descobrir, trabalhar e montar de novo. O resultado que agora poderão ver, é o trabalho intenso e dedicado de dezenas de alunos e alunas, das professoras orientadoras e dos professores orientadores e de todos os outros elementos da escola (equipas técnicas, pedagógicas e de apoio à execução de alguns materiais). Mais do que criar um espetáculo espetacular, interessa-nos a experiência pedagógica de que todos as alunas e os alunos, sem exceção, pudessem compreender cada fase de montagem de um espetáculo, participar ativamente com as suas ideias e propostas, contribuir com o seu universo e imaginação, e que aprendessem o caminho que há a fazer entre o momento em que se acende uma ideia, e a sua enorme transformação até ao resultado final. Este é o espetáculo que marca, com as suas falhas e os seus sucessos, o lugar onde as alunas e os alunos se encontram hoje, com a experiência e conhecimento de um ano de aprendizagens na bagagem, e com a possibilidade de não pararem de crescer, em técnica e em imaginação, até ao final das suas vidas. A todas e todos que se empenharam tão dedicadamente, fica o meu agradecimento. Em especial, a todos os meus/minhas colegas professores e professoras e orientadores e orientadoras, que todos os dias levaram para casa horas extra de trabalho, preocupação, e entrega, para que isto se tornasse possível e para que, no dia seguinte, pudessem proporcionar às suas alunas e aos seus alunos uma experiência e uma aprendizagem ainda melhores. 

Porto, 7 de junho de 2024

 

Figurinos e Adereços Beatriz Melo, Benedita Marmelo, Gabriela Nápoles, Hugo Marques e Maria Clara Sampaio • Cenografia e Adereços Ana Cristina, Cláudia Alexandra, Cloé Placzek, Fábio Rodrigues, Inês Ferreira, Soraya Freire, Vanessa Martins e Karma • Interpretação Beatriz Mendes, Carolina Lopes, Catarina Silva, Diogo Morgado, Filipa Santos, Érica Pereira, Inês Sousa, Inês Figueiredo, Lara Gaspar, Leonor Alves, Maria Lima, Maria Silva, Mariana Neves, Mariana Ginja, Mariana Gaspar, Raquel da Volta, Raquel Moreira, Raúl Silva, Rita Oliveira, Rita Aleluia, Sara Pacheco, Sarah Melo, Telma Leite e Tiago Ribeiro • Luz Afonso Barrote, Beatriz Fonte, Gabriela Diallo, Inês Oliviera e Rita Montes Pires • Som Bernardo Oliveira, Francisco Carvalho, Inês Castro e Nathaly Silva • Acompanhamento em luz e som Sofia Nectasov (aluna do 3º ano) Direção de Figurinos e Adereços • Paula Cabral • Direção de cenografia e Adereços Susete Rebelo • Direção de Luz Pedro
Vieira de Carvalho • Direção de Som João Martins • Apoio Técnico João Félix, Melissa Silva, Ruben Gonçalves e Tomé Lopes • Fotografia Pedro Figueiredo • Vídeo Vasco Santos • Produção Executiva Rosa Bessa • Direção de Produção Glória Cheio • Direção Técnica Pedro Vieira de Carvalho • Direção de Cena Jessica Duncalf