TEATRO / THEATRE

28 novembro a 09 dezembro'18
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Teatro do Bolhão
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Palácio do Bolhão
TEATRO / THEATRE

Em TEATRO/THEATRE, a personagem de um actor, de regresso à casa da família (onde já ninguém vive), lança-se no sonho de criar um projecto teatral próprio relacionado com a memória dos últimos tempos vividos com a mãe. Visitado por um jovem encenador que é “estrangeiro” a todo esse seu património de memória, é-lhe proposto um espectáculo em que o menos importante é, precisamente, a sua experiência (a sua “memória”) de actor. Quinto e último acto de um ciclo dedicado ao teatro que viu concretizado: Não Tenho Olhar Mas Mamilos que Endurecem Quando Alguém Me Olha (Teatro do Bolhão, 2012-13,), Personas (projecto off, apresentado no Teatro do Vestido, 2014), Hierarquia (TB, 2015) e Eu Serei Shakespeare (TB, 2016), o espectáculo reage a mudanças profundas e rápidas (tecnológicas, sociais, humanas...) que tendem a ser “percebidas e sentidas como traços permanentes da condição humana”, como eventos comuns e não extraordinários, “norma e não anormalidade, regra em vez de excepção”. Face a essas novas “normas” e “regras”, as nossas dúvidas nunca se expandiram tanto como hoje, o que é estimulante:
Deveremos aceitar sem debate que se imponham formas teatrais mais globalizadas capazes de se adequarem ao público de qualquer país? Se as críticas ao teatro literário “desencarnado” permitiram uma “revolução” que ajudou o teatro a “reteatralizar-se”, até que ponto essas mesmas críticas servem hoje para fazer desaparecer elementos artesanais, intelectivos e coletivos do universo teatral? Até que ponto o teatro do nosso tempo está a transformar-se numa das muitas extensões de um sistema que, de forma eficaz, reduz cidadãos a consumidores, solitários e aditivos? Que consequências derivarão do triunfo uniformizador de um teatro da híper-fragmentação da fábula, da desconstrução do diálogo e da personagem, da relevância dada ao infra
dramático, da despersonalização da personagem? A diversidade dos “teatros” do nosso tempo só permite “diferenças que estejam em conformidade com o sistema”? “Graças a uma pluralidade aparente e superficial, deixamos de nos aperceber da violência sistémica do idêntico”? “Que a pluralidade e a escolha simulam uma alteridade que na realidade não existe”? O espectáculo é da responsabilidade de um núcleo de criação onde co-habitam opiniões e sensibilidades distintas. Procuramos privilegiar o dialógico, nos processos internos e nas concretizações externas.
Gostaríamos, também, de ouvir quem vier ter connosco, tanto os que duvidam da nossa insatisfação, como aqueles que nela encontram motivos para a criação de uma nova consciência.

 

texto
Zeferino Mota
Encenação
Pedro Fiuza
Zeferino Mota
Interpretação
Daniel Macedo Pinto, João Cravo Cardoso e Sandra Salomé
Cenografia
Cátia Barros
Figurinos
Manuela Ferreira
Desenho de Luz
Mário Bessa
assistência a cenografia
Nuno Encarnação
Filipe Mendes
execução de figurinos
Maria da Glória Costa
Imagem, Cartaz e Vídeo
Luís Troufa
Colaboração Musical
Ernesto Coelho
canção Manouchian composta
por José Manuel Cerqueira e
interpretada por Bernardo Gavina
operação de luz
Konstantin Korchagin
operação de som
João Félix
direção de produção
Glória Cheio
produção executiva
Rosa Bessa
frente de casa e bilheteira
Cláudia Madureira
agradecimentos
Ana Barros e Bernardo Gavina